quinta-feira, 30 de outubro de 2014

A solução é fazer tendas

O artigo abaixo foi escrito por mim, a pedido do Pr. Valtair Miranda, e foi publicado na Revista Administração Eclesiástica do terceiro trimestre de 2009.
Naquela ocasião, eu era pastor da Igreja Batista de Flórida Paulista, SP.


SUSTENTO PASTORAL, QUAL A SOLUÇÃO?

Deus continua a chamar pessoas de ambos os sexos para dedicarem suas vidas ao Santo Ministério da Palavra. Com a chamada vem o desafio da preparação e do sustento.

No que se refere à preparação, hoje está mais fácil do que antigamente. Além de haver cursos preparatórios em diversos lugares, há ainda as facilidades da internet. Já há cursos teológicos na modalidade de ensino à distância, reconhecidos pelo Ministério da Educação. O aluno pode estudar sem sair de casa. Basta ter o suporte de um bom computador conectado à internet pelo sistema de banda larga.

Verdade é que se discute a qualidade do referido ensino. Muitos questionamentos são levantados, tais como, o ensino à distância é tão eficiente como o presencial? Terá o aluno a devida disciplina para cumprir suas tarefas? A falta de convivência com colegas de estudo e professores não será prejudicial à sua formação?

Mas, deixando de lado a questão da preparação, e voltando para a questão do sustento pastoral que é o assunto deste artigo, qual será o futuro desses estudantes depois de concluírem o seu curso? Como eles ou elas se sustentarão financeiramente na realização do ministério?

Estou pensando dentro do contexto batista brasileiro, com as diversidades regionais, e com o princípio da autonomia da igreja local, onde cada igreja se autoadministra, e decide sobre todas as questões administrativas, inclusive sobre os honorários pastorais.

Há igrejas de diversos tamanhos e de diversos potenciais financeiros. Há igrejas que podem dar altos honorários aos seus pastores, e há aquelas sem as mínimas condições de dar um sustento condizente ao seu obreiro.

O que fazer então? Qual a solução para o sustento de homens e mulheres que são chamados para a obra do ministério cristão e não contam com o suporte financeiro adequado de uma igreja ou instituição?

Já no meu tempo de estudante na FTBSP, 1969 a 1972, o Pr. Werner Kaschel dizia que, segundo as estatísticas, de cada dez pastores batistas no Brasil, sete teriam que fazer tendas.

Não sei quais são as estatísticas atuais, mas imagino que a realidade deve continuar a mesma, ou seja, de cada dez igrejas batistas no Brasil, somente três tem condições de dar um sustento financeiro adequado ao seu pastor.

Pergunto novamente, o que fazer então?

Creio que os pastores devem ter consciência disso, e ao assumirem o pastorado de pequenas igrejas saberem que precisam de outra fonte de sustento fora da igreja, e não ficarem querendo tirar das igrejas aquilo que elas não podem dar.

Há muitos pastores que já recebem uma modesta aposentadoria, como é o meu caso, e podem muito bem pastorear pequenas igrejas e se contentarem com aquilo que elas podem dar, mas há aqueles que não possuem aposentadoria, nem outra fonte de renda qualquer, e precisam encontrar um meio para complementação do seu sustento e de sua família.

A Bíblia ensina, e as leis brasileiras permitem, que duas ou três pessoas reunidas em nome de Jesus organizem uma igreja e escolham livremente sua liderança.

A organização de igreja, de qualquer número de membros, é bíblica e legal.

"Digno é o obreiro do seu salário", mas dentro das possibilidades das igrejas. Igrejas grandes, grandes salários. Igrejas pequenas, pequenos salários.

Concordo com a afirmação seguinte, muito conhecida no meio batista: "Quem Deus chama, Deus sustenta". Deus sustenta a todos os seus filhos. Deus cuida até dos passarinhos, mas os passarinhos precisam sair em busca do seu sustento.

Jesus Cristo ensinou que é preciso, pedir, buscar, e bater na porta. Muitos ficam só no pedir. Esquecem de buscar e bater, esquecem de "fazer tendas".

Vamos fazer tendas.

É melhor que cada igreja, mesmo pequena, seja autônoma, e tenha o seu próprio pastor, com sustento ou sem sustento, do que ser congregação de outra igreja que fica em um município distante, e que também não pode dar a devida assistência.

Temos que aceitar a realidade brasileira, que não é a mesma em todas as regiões.

Cada grupo de irmãos, ou igreja, deve se autoadministrar de acordo com suas possibilidades.

Um pastor, fazendo tendas, poderá ser uma grande bênção para sua família, sua igreja e para a comunidade onde vive. Além dos benefícios materiais, terá também os benefícios sociais e espirituais.

Deixemos de lado a ideia de que igrejas grandes, Associações e Convenções tem obrigação de ajudar igrejas pequenas.

O raciocínio é inverso, igrejas pequenas ou grandes, todas contribuindo fielmente para as Associações e Convenções, para que estas possam realizar aquilo que uma igreja só não pode fazê-lo.

Nos meus 37 anos de pastorado nunca pedi nada para Associação ou Convenção, sempre entendi que compete à igreja enviar aquilo que prometeu quando se filiou, e nunca pedir nada de volta.

Cada uma deve realizar o trabalho de acordo com suas possibilidades.

A igreja que pastoreio atualmente tinha pedido ajuda para a Associação antes de eu tomar posse. Dentro de pouco tempo, levei a igreja a dispensar a ajuda.

Continuamos a fazer a nossa parte, enviar cinco por cento das entradas para a Associação, dez por cento para a Convenção Estadual, levantar as ofertas de missões mundiais, nacionais, estaduais e regionais, e contribuir para o Lar Batista de Crianças, tudo dentro das nossas possibilidades.

Sustento pastoral no Brasil Batista, qual a solução?
 
Fazer tendas.

Muito obrigado a todos!

Adriano Pereira de Oliveira.